Depois de passar mais do que uma hora a admirar esta foto, aproximo-me do ecrã e ouço o barulho que tem, toco-lhe e sinto a vibração do vento que sopra no seu interior, quando menos esperei o homem que está lá sentado, vira-se para mim, e qual é o meu espanto quando me apercebo que…sou eu…
Iniciámos assim um diálogo em que lhe perguntei o que fazia ali, a resposta dele foi imediata:
-Este é o retrato da tua vida…
De súbito senti um medo enorme e um aperto no coração que me dizia, ele tem razão;
As lágrimas invadiram os meus olhos e sem que as conseguisse controlar, caíram cara fora, mas, pareciam granizo, a água tinha-se transformado em gelo, e sem que pudesse dizer algo, o homem da foto diz:
-Estão aí há tempo demais….qual o mal de chorar?!O facto de não chorares já faz com que não sejas honesto contigo mesmo, não estas a libertar as tuas emoções, não estás a ser tu próprio!
Cada vez mais pergunto para mim mesmo, quem é este homem, que afirma ser eu e que ate sabe umas “coisitas” de mim?!
Optei por avaliar a imagem que tinha à minha frente e tentar ver, qual a mensagem que estaria inserida naquele pequeno quadrado.
Em primeiro lugar, sinto que se avançar caio, é como se necessita-se da ajuda de alguém…mas quem?!cabiz baixo, muita roupa, escondem a cara, algo que nesta parte da minha vida não quero mostrar a ninguém, pois eu sinto que nem ao espelho me reconheço, sentado, significa o cansaço que trago por não ser feliz e por não me sentir realizado. È como se a única coisa que tenho segura é um passado, que me traz recordações boas, ou melhor, aparentam ser, comparativamente com o que vivo agora. Não tenho medo de saltar, até porque de uma altura destas nem sentiria nada, mas por muito que pareça errado, estranho, estúpido, eu sinto que o bloco de pedra onde estou sentado, vai guiar-me…aliás, ao observar a foto, vejo que mesmo atrás de mim, a pedra está a partir-se, existe uma fenda, como que uma tentativa de me soltar desse passado de ilusões e que me levam á destruição do presente, pois revoltam-me contra esta minha nova condição….vazia!!!
Paro e logo de seguida da foto, o meu eu, comenta:
-Estás num processo de reconstrução que te está a levar a tal intensidade que sendo desejada jamais iria ser atingida, pois a tua condição de ser humano não a conseguiria levar até ao fim, logo, foi criada para ti….
Neste momento começo a acreditar na imagem que vejo, a minha vida aqui espelhada!
Ao decidir continuar a percorrer a imagem, deparo-me com algo bem lá no fundo, que por acaso esta mesmo por baixo de mim….O mar !Mas quando olho vejo que existe também uma cerrada formação de árvores, que observada, parece que formam uma superfície fofa….uma camada de protecção que em caso de queda me permitirá sair ileso….
Curioso, numa imagem tão agreste como esta poder tirar-se uma conclusão destas é difícil…
Ao pensá-lo, o meu eu responde:
-Na vida, tens que perceber que por muito agreste que tudo seja, que por muito negro que tudo pareça, tudo vai depender do sentido que damos as coisas….Nem sempre voltar para trás é a solução, visto que o caminho é para a frente. Não deves ver o passado como o melhor tempo pois o futuro é totalmente desconhecido….
Fernando Pessoa dizia:
“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
Nesta imagem que pode ser vista de forma tão negativa, existe muito do que me rodeia, mas de uma forma positiva.
E o meu eu pergunta:
-Será que já viveste a INTENSIDADE, o INESQUECÍVEL, o INEXPLICÁVEL e o INCOMPARÁVEL?!
Ou será que há algo para viver de tão forte que haja uma expressa necessidade para que se viva isto, o mau e o bom?!
Como é obvio, penso, que venha então um futuro, independentemente do que for, pois quando chegar ao dia da minha morte, quero saber identificar as quatro coisas que definiram a minha vida….
O intenso!
O inesquecível!
O inexplicável!
O incomparável!
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